terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ministério lança nova recomendação para coquetel contra HIV


A prevenção à transmissão do vírus HIV acaba de receber uma nova orientação do Ministério da Saúde, nos casos de exposição por meio de relação sexual. Profissionais da rede pública de saúde de todo o país receberão um suplemento que inclui recomendações para abordagem da exposição sexual ao HIV. De acordo com a cartilha, eles poderão indicar uma terapia antirretroviral — ou seja, um coquetel de prevenção ao vírus — para pessoas que temem ter contraído HIV após a exposição sexual. Para conseguir o tratamento, no entanto, serão avaliados critérios como o tipo da relação e se o parceiro foi uma pessoa que tem o HIV ou se integra os chamados grupos de alta prevalência do vírus (veja o quadro ao lado). Até então, a prescrição de remédios que integram coquetéis de tratamento como uma forma de prevenção só era recomendada para os casos de violência sexual e para os profissionais de saúde contaminados em acidente de trabalho.

O suplemento Tratamento e prevenção, lançado ontem, faz parte das Recomendações para Terapia Antirretroviral em Adultos Infectados pelo HIV — 2008. Segundo o Ministério da Saúde, o suplemento será enviado ainda este mês para as secretarias estaduais e municipais e para os 737 Serviços de Atendimento Especializados (Saes) em HIV/Aids espalhados pelo país. Os profissionais ainda deverão receber capacitação para a utilização das novas recomendações. Isso porque, segundo o departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, as novas instruções não deverão se sobrepor à principal orientação para a prevenção da transmissão: a proteção por meio de barreira. “Nós estamos indicando novas recomendações, mas a melhor forma de evitar a infecção sempre será o uso de camisinhas masculinas e femininas. Além disso, nem todos poderão ter acesso ao medicamento. Não basta fazer sexo sem camisinha para ter acesso à quimioprofilaxia (prevenção pelo uso de medicamentos)”, afirma o assessor técnico do departamento, Ronaldo Hallal.

O suplemento indica que a medicação deverá ser recomendada , por exemplo, nos casos em que a pessoa exposta teve uma penetração anal por um parceiro soropositivo. A indicação varia de acordo com a exposição sexual e a situação do parceiro. Em casos em que o parceiro pertença à população de gays ou de homens que fazem sexo com homens (HSH), da qual 10,5% é diagnosticada com HIV; de usuários de drogas injetáveis (5,9% da população com vírus) ou de profissionais do sexo (5% da população com vírus), a indicação da medicação deverá ser recomendada ou, pelo menos considerada — o que significa que o paciente deve ser mantido em observação por meio de exames.

Para o coordenador do Núcleo de Controle de Aids da Secretaria de Saúde do DF, Ricardo Azevedo, as orientações devem ser mais bem esclarecidas: “Tínhamos a orientação de que, para essas pessoas receberem o medicamento, deveriam ter um relacionamento estável. O profissional deve saber exatamente como lidar, para não corrermos o risco de que as pessoas deixem de fazer o uso de preservativo por ter acesso à prevenção pelo medicamento”. O coordenador afirmou que os profissionais dos nove centros especializados do DF deverão contar com uma capacitação ainda este ano.

Será prescrita, para esses pacientes, uma combinação dos medicamentos zidovudina (AZT), lamivudina (3TC) e tenofovir (TDF). Para ter efeito de prevenção, os medicamentos devem ser tomados, idealmente, nas primeiras duas horas após a relação sexual e no máximo após 72 horas da exposição. Diferentemente do tratamento de longa duração, o preventivo é realizado no período de 28 dias.

O sonho de ter filhos

A nova cartilha do Ministério da Saúde inclui ainda um capítulo que aborda estratégias de redução de risco de transmissão sexual do HIV no planejamento da reprodução para pessoas que vivem e convivem com HIV/Aids. A orientação foi fornecida porque, em pesquisa realizada pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério entre agosto de 2008 e agosto de 2009, foi constatado que o desejo reprodutivo do casal não era abordado de forma sistemática pelas equipes de saúde. No entanto, o ministério aponta que 80% das pessoas com Aids se encontram na faixa etária reprodutiva e que as atuais tecnologias disponíveis e recomendadas no Brasil são capazes de reduzir o risco de transmissão vertical (de mãe para filho) para menos de 1%.

“A mulher deve ter o direito de escolha reprodutiva. O Brasil já conta tanto com métodos de reprodução assistida quanto de métodos naturais de reprodução que são eficientes para os portadores do vírus HIV”, afirma a assessora do departamento do Ministério da Saúde, Andrea Rossi. A cartilha da pasta aborda as melhores técnicas para a reprodução do casal. No caso de o homem ser soropositivo, um dos melhores métodos seria a inseminação intrauterina. Já se a mulher for soropositiva, uma das indicações mais adequadas seria a autoinseminação (introdução do sêmen por meio de uma seringa). No caso de ambos no casal serem soropositivos, recomendam-se técnicas de reprodução assistida.

A Secretaria de Saúde de São Paulo é pioneira em uma experiência em curso, atualmente. No Centro de Referência e Treinamento em DST e Aids da secretaria, 40 casais foram atendidos desde abril e 17 já foram selecionados para o procedimento de inseminação artificial.

Fonte: Pernambuco.com

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