sexta-feira, 5 de março de 2010

Saúde // Questão de Pele


As férias de verão chegam ao fim e a volta à rotina de quem aproveitou a estação mais quente do ano no litoral ou nas piscinas pode vir acompanhada das indesejáveis micoses. Essas doenças de pele, causadas por fungos que se proliferam facilmente com o calor e a alta umidade, não são malignas, mas podem apresentar sintomas incômodos e problemas estéticos, como manchas, irritações e descamações, que atingem do couro cabeludo aos dedos do pé.

Os fungos estão presentes naturalmente no meio ambiente, no ser humano e nos animais. A virilha, as axilas e as dobrinhas dos dedos são as partes do corpo preferidas desses micro-organismos, que provocam bolhas, coceira intensa e mudança na coloração da pele. A dermatologista Grace Caldas explica que a areia da praia e as piscinas são locais de grande incidência de fungos. Mas algumas micoses podem surgir sem que a pessoa tenha passado por áreas consideradas mais arriscadas. No verão, a micose na virilha é recorrente. A umidade contínua, o calor e o uso de roupas abafadas, como calças jeans, são suficientes para desencadeá-la. "Surge, então, a manifestação: uma vermelhidão, que pode vir seguida de coceira ou não. Muitos pacientes confundem essa micose com assadura ou alergia", esclarece.

O fotógrafo Wallace Torres*, 40 anos, conta que notou uma mancha vermelha na virilha. "Não coçava. Por isso, o desconforto era somente estético. Não imaginei que pudesse ser um fungo, porque não tinha estado em praias ou piscinas. Usei sabonete neutro achando que remediaria o mal. Mas, para a minha surpresa, a mancha aumentou cerca de um palmo para cada lado da virilha", conta. O diagnóstico de micose foi feito por uma dermatologista e Wallace se tratou durante um mês com medicação oral e tópica. "Fui orientado a prosseguir com o tratamento até o fim para que os fungos fossem totalmente exterminados. Deu certo. Da micose, ficou apenas a lembrança", diz.

Contágio - Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica no Distrito Federal, Erasmo Tokarski, o maior erro das vítimas do problema é a automedicação. "Assim como utilizar sabonetes e loções aparentemente inofensivos, usar medicamento indicado a amigos acometidos por doença similar pode agravar ainda mais a situação. O paciente deve procurar um especialista o mais rápido possível", alerta o dermatologista.

Segundo o médico, a micose de unha é a mais difícil de tratar. "Ela também é adquirida em salões de beleza devido à falta de esterilização do material usado por manicures e pedicures. O tratamento é diário, feito com medicação tópica e oral e pode durar mais de oito meses. O paciente precisa ser persistente na terapia", afirma. Para não correr riscos, a dona de casa Georgete Pantazis, 70 anos, não abre mão de fazer as unhas em um salão que conta com sistema de esterilização de alicates e espátulas. "Nunca tive micose, mas conheço casos de pessoas que sofreram para se livrar da doença. Como faço as mãos duas vezes por semana, não dispenso esse cuidado. É a minha saúde que está em jogo", diz.

A designer de unhas Marciany Nascimento explica que, para garantir o bem-estar das clientes, o material deve ser lavado com água e sabão, lacrado e esterilizado. "No salão, usamos a autoclave. A máquina trabalha a uma temperatura de 260°, funciona a vapor e fica travada por uma hora para a esterilização. Lixas, palitos e toalhinhas são descartáveis e não usamos mais bacias. As mãos são envolvidas em luvas e os pés em meias de plástico que já vêm com hidratante para amolecer a cutícula", explica.

Outros vilões - Mas as micoses não são as únicas vilãs da pele no verão. Uma doença comum, conhecida como bicho geográfico, também pode provocar grande desconforto por conta da coceira intensa e vermelhidão. A dermatose é causada por uma larva encontrada nas fezes de cães. "Ela penetra, geralmente, no pé ou no bumbum do indivíduo, locais de maior contato com a areia e a terra. A partir daí, a larva vai caminhando pelo corpo e formando algo parecido com um mapa, por isso é conhecida também como bicho geográfico", detalha a dermatologista Grace Caldas. O tratamento envolve medicação oral e pomada específica, mas dependendo da área acometida, também são indicados anti-histamínico e anti-inflamatório.

A miliária, conhecida popularmente como brotoeja, e a urticária solar também atormentam crianças e pessoas com pele sensível em tempos de muito calor e umidade. "O aumento do suor e o uso inadequado de cremes e loções em peles frágeis provocam brotoejas rosadas cheias de líquido que surgem nas dobrinhas do pescoço, braços e pernas. Já a urticária surge depois de dois ou três dias de exposição solar, coça muito e forma placas em todo o corpo", ilustra a especialista.

Se o calor é intenso, sucos, picolés e a brasileiríssima caipirinha são sempre bem vindos. No entanto, todo cuidado é pouco com as frutas cítricas, como a laranja, o abacaxi e o próprio limão. Um descuido pode causar queimaduras graves e manchas escuras na pele caso, depois de ter contato com essas frutas, a pessoa se exponha ao sol. "Todo cuidado é pouco com os melasmas também. Eles são sinais decorrentes da exposição solar principalmente por gestantes ou mulheres que tomam anticoncepcional. A predisposição genética facilita o aparecimento dessas manchas, que são tratadas com fórmulas clareadoreas que devem ser indicadas apenas pelo dermatologista", orienta Tokarski.

* Nome fictício a pedido do entrevistado

Tipos mais comuns

Tinea do corpo (impingem) - lesões arredondadas que coçam e se abrem em anel de borda avermelhada e descamativa
Tinea de cabeça - áreas arredondadas com falhas nos cabelos, rentes ao couro cabeludo. É uma micose muito contagiosa
Tinea dos pés - descamação e coceira na planta dos pés, que sobem pelas laterais para a pela mais fina
Tinea interdigital (frieira) - descamação, fissura e coceira entre os dedos. É muito comum acometer pessoas que usam calçados fechados com frequência. Mas pode ocorrer nas mãos daqueles que trabalham constantemente com água e sabão
Tinea inguinal (micose de virilha) - áreas avermelhadas e descamativas com bordas limitadas, que se expandem para as coxas e nádegas, acompanhadas de muita coceira
Micose de unha (onimicose) - pode se apresentar como deslocamento da borda livre da unha, espessamento, manchas brancas ou escuras na superfície, além de deformação. São as mais difícieis de curar
Intertrigo candidiásico - micose causada pelo fungo Candida Albicans. Provoca vermelhidão, pontos em alto relevo ao redor da região mais afetada e muita coceira
Tinea negra - manchas escuras nas palmas das mãos e dos pés. Não causam coceiras ou descamações

Como evitar

Enxugar-se muito bem após o banho, principalmente nas dobras de pele, como axilas e virilhas, e entre os dedos dos pés
Evitar ficar com sungas, biquínis ou maiôs molhados por muito tempo
Evitar o contato prolongado com água e sabão
Não compartilhar objetos pessoais (roupas, calçados, pentes, toalhas, bonés)
Não andar descalço em pisos úmidos
Evitar mexer com a terra sem usar luvas
Usar somente o seu material de manicure
Evitar usar calçados fechados prolongadamente
Dar preferência a roupas frescas e de algodão
Evitar os tecidos sintéticos, principalmente nas roupas de baixo

Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

Fonte: Diario de Pernambuco

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