domingo, 25 de abril de 2010

Mangue pede socorro


A presença imponente em alguns trechos do centro do Recife concede a impressão de que tudo está sob controle. Mas, não muito longe, o mangue pede socorro. Novas ocupações na beira do Rio Capibaribe, no bairro de Joana Bezerra, crescem a olhos vistos e, junto com outras ameaças, desmatam o que restou do manguezal na cidade. Um cenário local e global. A mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, divulgada no início do mês, incluiu os manguezais pela primeira vez. É como se mais de uma em cada seis espécies pudesse desaparecer. Um saldo preocupante. Seria a perda de uma floresta menos falada, porém mais eficiente na purificação do ar e no controle da linha de costa (avanço do mar) do que a mata atlântica ou a amazônia.

O sinal vermelho foi dado pelas organizações não-governamentais IUCN e Conservação Internacional (CI), que conduziram os estudos para a atualização da lista. Nas análises, os maiores especialistas em manguezais no mundo consideraram que o perigo de extinção foi provocado, emparte, pelo desenfreado desenvolvimento urbano em regiões litorâneas e costeiras. Também foram citados como culpados o desmatamento originado pela agricultura, carcinicultura (cultivo de camarão) e outros fatores, como poluição das águas e aquecimento dos oceanos. A conclusão mostrou que as áreas mais afetadas mundialmente são as costas Atlântica e Pacífica da América Central, com 40% das espécies ameaçadas de extinção.

As espécies encontradas no Brasil e em Pernambuco, que abrigam respectivamente uma área de 25 mil quilômetros quadrados e 270 quilômetros quadrados, permanecem fora da lista vermelha. Ainda. "Estar na lista é muito ruim. Mas não está significa que há tempo para termos a responsabilidade de assegurar a integridade desse ecossistema", afirmou o biólogo Rodrigo Moura, da CI. Ele ressaltou que a situação mais crítica se encontra no Nordeste do país por ser uma região naturalmente com áreas menores de manguezais e que já sofreu muita pressão urbana e, em especial, da carcinicultura.

O biólogo e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Júnior, destacou que não é possível quantificar a área desmatada no estado por conta da carência de estudos. Mas alerta que é seguro estimar uma perda superior a 50% na Região Metropolitana do Recife (RMR). Uma vegetação, acrescentou, que fará falta nos serviços ambientais prestados pelo manguezal. "Além de ser berçário para uma infinidade de espécies comerciais, o mangue atua como filtro biológico, reduzindo as enchentes e controlando o avanço da linha de costa", destacou. O rápido potencial de crescimento da vegetação também faz do ecossistema um forte aliado no sequestro de carbono, tão falado em tempos de aquecimento global.

Projeto - Na última semana, a aprovação do projeto de lei nº 1496, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), provocou atos de protesto entre os ativistas ambientais e pescadores. As queixas foram motivadas pela autorização do desmatamento de 1.076 hectares, sendo 893,4 de mangue, 17,03 de mata atlântica e 166,06 de restinga. O total é semelhante à área de mil hectares de mangue. Apesar dos protestos, o procedimento é previsto em lei em caso de obras de utilidade pública ou interesse social, mediante decreto do governador. O projeto foi encaminhado pelo governador Eduardo Campos, mediante a compensação do desmate em outra localidade. Mas a necessidade de desmate e o replantio também são questionados pelos ambientalistas.

Fonte: Diario de PE

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